quarta-feira

carta nº6

hoje vi-te. reconheci a tua postura curvada, apoiado com um pé no muro. estás diferente, pálido, mais do que me lembrava. tens os gestos presos pela culpa. não me surpreendi. quis-te assim, inabitado por dentro para poder ser eu a entrar. quando finalmente mexeste os lábios foi para repetir o que certamente repetes para ti todas as noites:
- não me arrependo.
estremeci. quis afastar-me mas não me podia dar ao luxo de parar de te observar. havia ternura na maneira como respiravas o ar gélido da manhã. havia, e eu queria à força encontrar-te a ti, meu amor, talvez perdido nesses olhos pretos que em tempos foram mais claros que a madrugada que agora demora a vir.
forço-me a acreditar que estás derrotado quando certamente não o estás. talvez a fraqueza esteja em mim por fazer da tua ausência um assunto

Sem comentários:

Enviar um comentário