sábado

carta nº15

se calhar esta tristeza é só saudade de acordar contigo a dormir tão pertinho,
a não caber em mim de todo o meu amor estar nessa cama a dormir.
pensar que todo o tempo que vivi antes deste foi sem ver
porque afinal ver é adormecer aos poucos ali,
ouvir a tua respiração calma no escuro,
rezar para que o tempo abrande.
mas se calhar é só fraqueza
ou pensar demasiado;
é passar de ser
para metade
de ser.

segunda-feira

mãe, dói-me a vida
toda
quero outra

sexta-feira

vigília

já sinto uma corda a prender-me o pé ao cais
e às vezes faz-me falta ser de ti, das tuas brincadeiras e das tuas gargalhadas. não ser da rua, não ser de Lisboa por umas horas.
minha casa de água e prantos em ruelas

isto é tudo para ti, desde o início dos inícios

terça-feira

ás vezes acho que o meu corpo é oco
quase faz eco de tão vazio
se calhar preciso de ir embora

carta nº14

já pego nas coisas antigas
sem deixar
que me queimem os dedos

e sinto que envelheci mil anos desde que foste embora

todos os dias penso que vais estar em casa à minha espera
todos os dias!

segunda-feira

carta nº13

vejo-te em todas as coisas,
da última vez que te vi (de ver), ao fundo das escadas,
pensei que podia ficar para sempre a ver-te ir embora, se isso significasse ver-te sempre. sem ser em todas as coisas 
ver-te a ajeitar a gola da camisola
ou a acordar devagarinho

tenho as saudades mais pesadas do mundo

quinta-feira

sei lá. sou só eu e o tejo
não é calmo nem quente, é pureza que lava pecados, é música murmurada
o meu único amor

carta nº12

para a nova pessoa,

ele é calmo. adormece rapidamente, isto é, não fica na cama acordado a pensar. podes ter já reparado naquilo que é enquanto dorme. com a pele dourada e expressão imperturbável, quase sorri.
quando desperto é a mais maravilhosa das companhias. ri com vontade e anda devagar, como se tivesse todo o tempo nas mãos. não o tem. está em constante conflito com a passagem dos anos que o arrastam.
ele nem sabe que é a pessoa mais bonita que eu já vi. e tu, certamente, já deves ter observado a beleza que as palavras dele trazem, quando divaga ou relata a última ida à beira-mar. tem olhos claros que ardem com a luz, feitos de água. tem a pele sempre quente, e o coração sempre cheio. ele é de ouro que me foi roubado
mas guarda-o. não erres porque ele não perdoa. se o tiveres tens furtuna verdadeira




deve haver um anjo qualquer que te guarda porque já durmo bem

carta nº11

 
assim não consigo. adoeço