quarta-feira

acompanham-me

terça-feira

carta nº9

gosto de pensar que havia alguma verdade na maneira como me sorrias em silêncio nos dias quentes de verão. hoje sou alguém diferente, as minhas piores partes unidas pelo desejo de voltar. sentei-me no cais com vontade de voltar a percorrer a estrada atlântica, sentir o vento e o sol numa valsa maravilhosa sobre a minha pele, observar os velhos moinhos vigilantes ficarem para trás enquanto conduzias relaxadamente. procuro-me nessas memórias e já não sei quem era. deixei-me lá

segunda-feira

carta nº8

já não te escrevo há algum tempo. 
passei-o como pude
já sou tão daqui, destes sítios seguros e escuros onde me faço passar por quem quero, onde abraço como quem gosta
queria entender este desgosto que deixa miserável quem encarna a perfeição por outra pessoa. não há recompensa em amar como fiz. espero que um dia passes por isto, espero que não consigas dormir

terça-feira

carta nº7


acho espantosa a finitude do que fomos. fizemos teatros tão credíveis, viagens tão felizes, trocámos tantos fardos tão pesados, que hoje custa a crer que chegámos a acontecer com tanta intensidade. espero que não consigas dormir quando souberes no que me tornei, para eu começar a conseguir adormecer no teu lugar.

quarta-feira

carta nº6

hoje vi-te. reconheci a tua postura curvada, apoiado com um pé no muro. estás diferente, pálido, mais do que me lembrava. tens os gestos presos pela culpa. não me surpreendi. quis-te assim, inabitado por dentro para poder ser eu a entrar. quando finalmente mexeste os lábios foi para repetir o que certamente repetes para ti todas as noites:
- não me arrependo.
estremeci. quis afastar-me mas não me podia dar ao luxo de parar de te observar. havia ternura na maneira como respiravas o ar gélido da manhã. havia, e eu queria à força encontrar-te a ti, meu amor, talvez perdido nesses olhos pretos que em tempos foram mais claros que a madrugada que agora demora a vir.
forço-me a acreditar que estás derrotado quando certamente não o estás. talvez a fraqueza esteja em mim por fazer da tua ausência um assunto